quarta-feira, 15 de março de 2017

POEMAS de Renato Flief

A VOZ DA DANÇA

Já tentou desligar tua voz?
Não, não essa voz!
A voz da dança
Que não controla tua respiração
Que atua sem intenção
Embriagando tua atenção
A voz que dita tuas palavras
A voz que procura no escuro
E responde quando te perguntam
Quem é você?
A sequência exata de experiências
Lembranças são como um rio
E a voz da dança
Desliza com seu corpo dissolvendo-se
Até que tua voz seja essa água
Esse líquido que envolve
Que te faz dançar repetidas vezes
Valida a informação das cartas
Que encontro nas calçadas e nas praias
A voz da dança lhe diz coisas
Que somente você pode ouvir
Mas a pergunta das outras vozes
Quem é você?
Se tirarem tua carne
E os rios na qual a voz se navega
Quem realmente reside nas rédeas
Invisíveis das sensações?
Emoções limitadas pelo campo de visão
Dividindo as alheias com outros sedimentos
Que acumulam-se, infestando o pensar
E a voz da dança
Retorna calada
Deita-se muda
Abraça as outras
Como se fossem tuas
Imagina a lágrima
De toda repetição desnecessária
Aos passos da dança irresistível
Saberemos a consciência
Dançando firmes
Ouvindo a voz da dança



P3R FU R4 4C40

O pé, deformado, o sapato
O outdoor encarece a visão
A palavra, se perde no sentido
Pois todo sentimento é em vão
Sem nenhuma clareza
A mão pode ser o tapa
O vampirismo na expressão
Alguma lua sem vida
A maneira de imaginar-se
De medir-se
No reflexo do infinitivo
Toda calma agregada a carne
Mutilada pela incisiva apreensão
Contorna a vida com tua tristeza
Obriga a boca escondida pela directiva
Soterrada pela experiência, pela informação
Sorrir, e todo desejo recebido, é torpor
Sem ritmo, sem direção

CIDADE

Todo senso se foi
Feito chuva de verão
Vejo rostos em toda parte
Mas não vejo que parte
Não entendo, dos rostos que vejo

Toda distância imaginária
Deforma a sensibilidade do real
E todo esse silêncio
Dentre tantos sons

A cidade canta
Emudece suas células
Dentro dos ônibus
Vermelhos, correndo

A dança não tem música
Movimento de repetição
A rotina encanta o decepcionado
Faz da vítima um passo da validade

As ambulâncias cantam
A cidade grita e as pessoas
Se calam

Poemas extraídos dos blogs: “A dança dos invisíveis” (adancadosinvisiveis.wordpress.com), “Kolagens” (kolagens.wordpress.com) e “Teorias do movimento” (movimentoo.blogspot.com.br).

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