Correndo
o risco de exagerar, acredito que a manifestação do movimento estudantil
paranaense é de longe a maior e mais bem organizada de toda a história do país.
Já superou São Paulo e Rio de Janeiro; isso quando falo apenas dos estudantes
secundaristas e nono ano do ensino fundamental. Agora falando na condição de
agente educacional II (administrativo) na cidade de Ponta Grossa, região do
interior conhecida como Campos Gerais, e também como apoiador das ocupações,
posso dizer que fiquei impressionado com a maturidade política desses jovens.
Ou seja, até mesmo eu, que torço pelas meninas e meninos, não esperava a
autonomia e a organização do espaço público que tive a honra de acompanhar.
O
colégio em que trabalho, o Instituto de Educação Professor César Prieto
Martinez, um dos maiores e mais tradicionais da cidade, foi ocupado na
segunda-feira passada (10/10) sob muita pressão de professores contrários e até
mesmo das autoridades policiais que, por meio de perguntas coercitivas,
tentavam desestabilizar o discurso dos líderes, ambos estudantes do terceiro
ano do ensino médio. Apesar de não ter participado dessa primeira assembleia,
pois não trabalho no período da manhã, fui informado das dificuldades que
passaram nesse primeiro momento. O policial militar, após a sabatina, dando-se
por vencido, acatou a entrega das chaves do prédio aos jovens que decidiram
permanecer. Foi feita uma ata delimitando as áreas que os alunos poderiam
utilizar, incluindo duas salas de aula para dormitório, banheiros masculino e
feminino, sala de multimídia para as oficinas e assembleias, áreas externas,
refeitório e ginásio. Duas professoras e uma pedagoga assinaram o documento se
responsabilizando pelas áreas do prédio disponibilizadas.
Dos
mais de cem professores e funcionários, cerca de nove permaneceram para apoiar.
Situação que já prevíamos, por conta do conservadorismo e desinteresse político
dos cidadãos – incluindo funcionários da educação – de nosso estado e
principalmente de nosso município. Quanto aos alunos – não é muito diferente –
dos milhares matriculados, oscilam na ocupação entre setenta e noventa jovens durante
o dia e são de trinta a quarenta para dormirem no local. Para poder dormir ali,
os estudantes precisam ter dezesseis anos ou mais e autorização assinada pela/o
responsável. Desde o início da ocupação do Instituto, os alunos demonstraram
envolvimento com a pauta da manifestação e zelo pelo prédio. Quando perguntei
aos professores, que ali se encontravam, sobre o comportamento e desempenho
escolar daqueles estudantes, todos disseram que aqueles eram, no geral, ótimos
alunos. Além disso, eles contaram com o apoio de alguns acadêmicos da UEPG,
ex-alunos do Instituto.
Quanto
à organização diária, todas as decisões passam por assembleia, onde os adultos
não têm direito a voto, apenas os estudantes secundaristas e do fundamental que
porventura estivessem no momento. O nosso papel, como adultos, foi apenas de
supervisão e apoio momentâneo até que se estabilizasse a nova situação daqueles
jovens. Em nenhum momento presenciamos depredação, desavenças, brigas ou
desrespeito entre eles. Muito pelo contrário, o respeito mútuo, a organização e
limpeza dos espaços, assim como também a emancipação e politização desses
alunos se intensificou nesses nove dias de ocupação. E, como já disse, mesmo
nós, professores apoiadores, ficamos todos impressionados com tudo o que vimos.
Mais que impressionados, recebemos uma aula de cidadania; nós, educadores,
acostumados à política institucionalizada na forma dos sindicatos.
Independente
do resultado, os estudantes do Paraná não sairão derrotados das ocupações. Quem
perde são todos aqueles que tentam criminalizar ou diminuir a primavera juvenil
que se dá em nosso estado. São esses grupos que perdem uma grande oportunidade
de aprender. Os estudantes saem vitoriosos, são guerreiros. Assim como os
poucos professores e diretores com consciência política que podem se orgulhar e
ter esperança no futuro. Que sirvam de exemplo para os demais estados do
Brasil.
Rodrigo
Tomé
Agente
Educacional II no Instituto de Educação Professor César Prieto Martinez.
Mestrando
em Linguagem, Identidade e Ensino pela UEPG (Universidade Estadual de Ponta
Grossa).